terça-feira, 22 de setembro de 2015

Encontrei-te


Ela veio até a mim por uma razão que eu sempre desconheci, hoje ainda a desconheço.

No início procurei a resposta em todos os pequenos sinais dela, nos mistérios que seriam o seu passado, nas indefinições que são o seu futuro e na vontade que tinha de viver o presente.

Dei por mim a acordar e desejar ter uma mensagem dela, dei por mim a prescindir de sair para não a deixar sem resposta, dei por mim a sorrir para o telemóvel, dei por mim a sentir falta de uma pessoa que verdadeiramente nunca tive.

Partilhamos das histórias mais banais até às mais excêntricas, partilhamos projetos de vida, brincadeiras parvas e medos.

Desfiz-me de todas as relações fugazes pendentes sem existir qualquer compromisso, de todas as mulheres que apenas conheciam o meu lado noctívago e que apenas me desejam uma parte do meu dia.

Em algum momento da nossa vida, imaginamos como iremos conhecer aquela pessoa que nos vai fazer sentir que todas as outras foram banais. Sempre achei que ia ser a miúda nova da pastelaria, a colega de trabalho da minha melhor amiga ou a rapariga que começou a apanhar o autocarro na minha paragem. Ela não preenchia esse requisito. Não fazia sentido a maneira como chegou até mim, fiquei sempre de longe a admirar o seu sorriso e sem saber como um dia poderia conseguir prender um minuto da sua atenção.

Ela era um mundo novo de descobertas, nunca tínhamos partilhado momentos no passado, não existiam elos em comuns, ela era apenas a estranha mais fascinante e ousada que tinha conhecido. A irracionalidade tomou conta de mim, o desejo apoderou-se dos medos e os corpos se encheram de desejo. 


Hoje partilhamos os lençóis, ela usa a minha roupa e eu desarrumo-lhe as prateleiras da loiça, hoje ela conhece os meus amigos e eu converso com pais dela, hoje não me importa a maneira como chegou até mim, mas sim encontrar a maneira de não a deixar fugir mais de mim. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Texto Partilhado Inspiring Life



http://www.ela-e-ele.com/a-minha-casa-sera-sempre-onde-tu-estiveres/

É com muita alegria e felicidade que o meu texto "Home" chegou á pagina Inspiring Life, tendo quase 100 partilhas e mais de 800 likes. Sugiro que passem na pagina do Facebook "Leave to Stay" e façam like https://www.facebook.com/enecessariopartirparaficar

Desde já, agradeço a todos pelas partilhas e á pagina Inspiring Life, conseguiu superar as melhores perspectivas.

Próximo texto já se encontra praticamente pronto, vai ser disponibilizado em primeira mão no Blog.

Fiquem atentos :)

domingo, 23 de agosto de 2015

Home


Percorro as minhas coisas, achando a minha melhor camisa para te agradar, tento arrumar um jeito no meu cabelo bagunçado, enquanto por 2 minutos levanto o olhar dos atacadores que apertava e vejo-te ali em frente ao espelho cuidadosamente colocando o rímel. 
O cabelo brilhante cobrindo as tuas costas, enquanto a franja descai ligeiramente sobre um dos teus olhos, o vestido assenta na perfeição no teu corpo e no tom da tua pele macia e suave como a delicadeza das tuas expressões.
O meu olhar concentra-se nos teus olhos, olho além do que está a vista de qualquer outro homem, vejo as tuas preocupações, os teus medos, os teus desejos e os teus planos. Pego no telemóvel disfarçadamente para registar o momento, não que tenha receio que um dia me esqueça do que senti neste mesmo momento, mas para juntar esta imagem ao mais belo capítulo do livro da minha vida.
Olho no meu ecrã do telemóvel e vejo que és real, que não é uma miragem do meu subconsciente, que és assim perfeita aos meus olhos, que desejo cada pedaço de ti, que me encanta e me questiona se é mesmo para mim que te arranjas dessa forma tentando me agradar do mesmo jeito que eu quando saiu para te encontrar.
Reparas que te estou a observar e sorris, tens milhões de sorrisos diferentes, eu juro que todos os dias encontro um novo, um que me prende nele e me contagia por si só, um sorriso que me faz feliz por ter conseguido proporcionar esse momento. Aproximo-me de ti, coloco os meus braços em volta da tua anca e puxo te ligeiramente contra mim.
Quero te comigo hoje e amanhã, quero enfrentar o futuro contigo, quero que cada pedaço da historia da minha vida venha sempre agarrada a ti.
A minha casa será sempre onde tu estiveres.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

28 de Fevereiro

Fecho a porta do teu quarto. Caminho pelo corredor do hospital a passo apressado, sinto o chão a fugir-me, apresso ainda mais o passo. A minha mala arrasta-se ao meu compasso, o barulho das rodas ecoa nos meus ouvidos. Entro no elevador e deixo de segurar as lágrimas que vinha a suster dos últimos dias, enquanto o elevador desce, revejo na minha mente toda a semana. Limpo o rosto enquanto a porta se abre, pego no telemóvel para ler as tuas instruções em Alemão para chegar ao aeroporto, reparo que todas me encaminham para longe de ti, para fora da tua vida. Entro no taxi, peço ao taxista para levar-me para a central de camionagem, percorro as ruas de Mainz e recordo-me dos nossos passeios no teu Twingo, a falares-me sobre a cidade e os locais que frequentas, sorrio a pensar nas coisas que dizias no transito e da tua maneira desajeitada e perigosa como conduzias. O motorista diz-me que chegamos entre o Alemão e a linguagem gestual, aponta-me para o local onde tenho que apanhar o BUS, aceno com a cabeça e despeço-me. Aperto o casaco, enquanto já seguro um copo de café grande, sento-me no chão da estação, dou um gole no café para me aquecer o corpo, a alma, porém, continua fria, ainda atormentada pelo acto cobarde de não ter ficado ali contigo, sabendo que estaria melhor a dormir numa cadeira de hospital em dezenas de posições que não pensei que fossem possíveis e a perder a conta ás vezes que acordava só porque mudaste de posição ou porque simplesmente respiraste mais alto. Prendo com as pernas a mala contra mim, não trago qualquer tipo de lembranças físicas nela, apenas um turbilhão de recordações e momentos vividos intensamente. Achava que levava uma mala carregada quando parti, mas afinal era apenas uma mala vazia a qual tu preencheste cada centímetro dela. Num momento de fraqueza pego no telemóvel e vou ver as fotos que tirei da minha semana, não tinha uma única de um local turístico ou de uma zona que tenha gostado muito, apenas fotos das nossas brincadeiras e vídeos no sofá feitos de improviso, a única paisagem ali era nossa felicidade. Entretanto tudo parou à minha volta, a correria das pessoas, o barulho dos comboios e as portas dos autocarros a abrirem-se e a fecharem. O meu sorriso estava diferente, só tu para conseguires tirar o melhor de mim. Viro a cabeça, vejo o meu reflexo num dos vidros da estação, não me reconheço. Imagino-me de volta a minha vida banal e isso sufoca-me, volto a cabeça para o lado oposto, esta um sem-abrigo a pedir esmola, como ele perdeu o tecto que o protegia do frio eu tinha acabado de perder o chão que servia do meu porto seguro. Apanho o bus em direcção a Frankfurt, sinto a minha alma a ficar enquanto o meu corpo se distância cada vez mais de ti a cada quilometro percorrido. Seguro na mala e caminho apressadamente ate à entrada do aeroporto, incrédulo e envergonhado comigo mesmo. Ajeito o cachecol e reparo no furo que fiz no dia que aterrei aqui, tinha tirado o cachecol e o casaco de lã para tentar criar uma boa impressão, colocando-os á volta da minha mala onde se prendiam muitas vezes nas rodas, fazia tanto tempo desde a última vez que tinha tentado impressionar alguém. Entro no aeroporto e paro exactamente no sitio onde tu estavas quando te vi pela primeira vez. Tinhas as mãos nos bolsos do teu casaco preto que terminava na tua cintura, camisa de ganga, camisola cinzenta perfeitamente alinhada com a camisa, jeans e all-stars azuis. Delicadamente colocas o teu cabelo ruivo atrás da orelha ao mesmo tempo que viras a cabeça na minha direcção. Sorriste. Já tinha visto muitos sorrisos mas nada se equiparava ao teu, toda as incertezas da minha viagem desapareceram nesse momento. Aproximaste, cumprimentei te e senti o teu perfume suave e doce, ainda esta tão entranhado em mim. Levo um encontrão e abro os olhos, como se fosse um sinal para voltar a realidade. Arrasto o meu corpo para a porta de embarque. Os motores ligam-se, o avião inicia a marcha de descolagem, prendo a respiração envergonhado com a minha atitude, deixo de sentir o chão, fecho os olhos e no silêncio do meu pensamento peço-te desculpa.